Embora o homem pré-histórico não a praticasse por esporte, a caça, com tal sentido, é muito antiga. Os antigos egípcios já a exerciam. Mas foi com o homem moderno que este espírito esportivo se delineou de fato. No século XIX, ele já estava com suas regras bem estabelecidas, e logo se tornou o passatempo predileto dos nobres ingleses. O esporte era dispendioso. Assim, seus praticantes sempre foram pessoas ricas. Além da manutenção das armas e da compra de munições, era preciso custear as despesas dos auxiliares: os cães.
Mesmo apesar dos altos custos, os desportistas não poupavam economias no aprimoramento dos cães. No entanto, como os animais existentes nem sempre correspondiam às necessidades, foram feitos diversos acasalamentos a fim de obter um tipo forte, de tamanho moderado, boa ossatura e com grande habilidade para buscar a presa e entregá-la na mão do caçador. Na verdade, esses homens queriam obter um cão de caça completo, capacitado para os mais diversos tipos de terreno-água, pântano ou matas fechadas. Para se chegar ao tipo almejado, foram feitos cruzamentos experimentais de setters, spaniels de água e o Terranova.
Foi nesse contexto que surgiram os Retrievers, animais que se destacavam como excelentes cães de busca. Notabilizando-se como ótimos apanhadores da presa abatida e perdida, não tardou para que se tornassem a coqueluche dos ingleses.
Contam os livros que o golden retriever nasceu de um punhado de cães amarelos russos que, levados a Inglaterra, foram cruzados com outros, para chegar ao tipo que têm hoje. Narram os especialistas, também, que o nome da raça deve-se ao fato de serem cães que têm a pelagem predominantemente dourada; daí o golden no seu nome, palavra que se refere a essa cor, em inglês. Já, a palavra retriever, que significa “aquele que resgata”, “apanhador”, alude, segundo as enciclopédias, ao fato de o cão ter sido utilizado para trazer com a boca a caça abatida, que caía na água, já sem vida, depois do tiro do seu algoz. Ele a apanhava e a trazia ao seu dono. Por isso o nome de “apanhador dourado”. Até poderia ser tudo verdade, não fosse outra – e menos simples - a história verdadeira.
Para retratá-la em detalhes fidedignos, bem como para que se entenda de onde surgiu o da palavra sugere, precisamos voltar ao século XIX, numa casa de campo na Europa insular.
Conta a legenda, que Madame Major Banks estava farta de bricar com seu marido,Sir Dudley Majoribanks, ou Lorde Tweedmouth, título pelo qual o nobre era mais conhecido. Todos os dias, era a mesma coisa: o nobre aristocrata inglês saía para cuidar das fábricas e fazendas e voltava tarde para casa, ansioso pelo jantar. A mulher ficava só, coordenando os empregados e rodeada dos cães perdigueiros, setters e spaniels do marido, como era comum na Bretanha de cento e cinqüenta anos atrás, entre as famílias de sangue azul.
Madame Majoribanks viu, então, que depois de dez anos de casamento, com prosperidade, lavouras, fábricas e ….cães, muitos deles, sua relação com o marido estava por um fio. Eles nem mais se olhavam nos olhos. Apáticos, apenas se cumprimentavam num ritual mecânico de ‘bom dia, olá, tudo bem com você hoje?’. E não havia solução para esse problema.
Até que, num sábado qualquer, o marido saiu cedo para caçar com os amigos barões, levando os cães consigo, como de hábito. A esposa, então, se produziu, chamou a pajem, e foi a cidade com ela. A carruagem as levou para uma Londres escura e chuvosa, onde viram um desfile colorido pelas cinzentas ruas. Era a companhia de circo russa, recém-chegada à cidade.
Atraídas pela música e pelos artistas, malabaristas e bailarinos, as duas seguiram o cortejo até a entrada do circo. Lá, no picadeiro, as damas viram a exibição de oito cães amarelos de pêlo longo, que obedeciam fielmente ao seu treinador. Encantada, Madame Majoribanks conversou com o dono do circo, que lhe contou ter encontrado os cães nas montanhas do longínquo Cáucaso, e não demorou muito a treiná-los. Numa atitude impulsiva, e sempre pensando em agradar o marido, que tanto apreciava cachorros, ela ofereceu uma boa quantia em dinheiro, ouro e jóias por dois dos cães amarelos.
O dono do circo resistiu à oferta, que foi triplicada, e ele acabou vendendo não só dois, mas os oito cães ao Lorde Tweedmouth, que sequer sabia daquela aquisição.
No cair da noite, Madame Majoribanks chegou à sua propriedade levando os cães consigo. O marido já a esperava nervoso e aborrecido, quando ela desceu da carruagem e lhe ofereceu os animais como presente. O Lorde resisitiu, esboçou um sorriso sem graça e, por fim, esbravejou: - nossa, o que vou fazer com esses cães sem raça? Já tenho spaniels e setters das melhores linhagens…vou ter que agüentar esses cães amarelos agora?
E, nos dias que se seguiram, o casal se afastou mais. A mulher ficou triste porque o marido não gostou dos cães e o marido bravo, porque a mulher não comprou bloodhounds, que eram ótimos sabujos farejadores, ou greyhounds, fabulosos velocistas.
Mas os cães foram muito dóceis com todos. Os outros cães, os criados, e até a Condessa de Wiltonshire e a Duquesa de Canternorthburg, passaram a achá-los companhias agradabilíssimas. Afinal, diferentemente dos outros cachorros, eles faziam companhia quietos para a esposa durante o dia de trabalho.
Um dia, o Lorde Tweedmouth partiu para uma caçada e os cães foram juntos. Eles não eram exímios farejadores, como os sabujos e os spaniels, mas, quando os marrecos foram alvejados e caíram n’água, os animais foram até lá mais rápido que os outros cães e trouxeram ao Lorde a caça, sem danificá-la, ao contrário do que os water spaniels faziam. Pela primeira vez, Lorde Tweedmouth ficou feliz e afagou a cabeça do mais peludo deles, chamado Nous.
Sir Dudley voltou para casa e, pela primeira vez em semanas, falou com a mulher, entusiasmado. Contou dos cães amarelos e do que haviam feito. Naquele dia o Lorde deixou que os cães amarelos dormissem ali, em volta da sua cama. E eles ficaram lá, dormindo. Nous, literalmente no pé do casal.
No dia seguinte, quatro dos cães acompanharam o Lorde ao trabalho nas fazendas e os outros ficaram em casa com a esposa, que mandou preparar e servir os patos da caçada. E ela e o lorde, pela primeira vez, em muito tempo jantaram juntos. Sorridentes. A alegria, subitamente, voltava a casa. Os tempos dourados estavam voltando.
Os cães amarelos trouxeram a alegria de volta ao lar dos Tweedmouth. A madame agora tinha companhia quando o marido saía para trabalhar e quando recebia sua amigas para o chá das cinco. De noite, o casal era feliz junto, com Nous e os outros cães amarelos ao redor. E naqueles anos que se seguiram a alegria reinou e os Tweedmouth tiveram filhos. Foram anos dourados..
E ainda hoje é assim: por onde passa, o golden retriever apanha e traz a felicidade, transformando em anos dourados aqueles que virão, para os donos e para todos aqueles que os rodearem e estiverem em sua companhia
Essa história sobre a raça foi refutada a partir de 1952, quando veio a público um manuscrito de Tweedmouth contando como de fato teria ocorrido a seleção. A descoberta dos registros foi feita, segundo o Complete Dog Book do American Kennel Club, pelo sexto conde de Ilchester, sobrinho do Lorde, historiador e esportista.
Alguns dos primeiros criadores deslocaram-se mesmo às montanhas do Cáucaso Russo, em busca de novas linhagens. Contudo, os registros dos canis demonstram a verdadeira história.
Embora haja cães pastores russos e raças como a Hovawart que parecem versões grandes do Golden, as suas personalidades são muito mais territoriais, reservadas e desconfiadas.
Na foto Lord Tweedmouth
Em seu livro, o Lorde Tweedmouth - que anotou detalhes da obra feita em Guisachan entre 1835 e 1890 - não menciona a compra dos cães de circo. Conta, porém, que adquiriu em 1865
“Nous” de um sapateiro, próximo a cidade de Brighton, no sul da Inglaterra. O único filhote amarelo de uma ninhada de retrievers Wavy-Coated (de pelagem ondulada) que nasceram em 1864. Esse jovem cão havia sido dado ao sapateiro como pagamento de uma dívida, tendo vindo do Lord Chichester. Marjoribanks levou esse cão consigo até Guisachan, sua propriedade na Escócia, para se juntar a sua criação de cães para esportes.
Na foto Nous
Nous acasalou com uma Tweed Water Spaniel chamada Belle e daquela união nasceram quatro fêmeas: Ada, Primrose, Crocus e Cowslip. Por mais de vinte anos, o Lord trabalhou numa linhagem descendente de Cowslip, que fez seu primeiro cruzamento com outro Tweed Water Apaniel (de nome "Tweed").
Na foto uma tweed watter spaniel
Desde a época daquela 1ª ninhada até 1890, todos os cruzamentos foram registados no livro genealógico de Lord Tweedmouth.
Do exame do pedigree dos últimos cães dourados nascidos em 1889, podem-se extrair alguns dados interessantes: além de utilizar extensamente o “Inbreending” (consanguinidade próxima), Lord Tweedmouth também introduziu novos sangues com meticulosos “Outcross” (cruzamentos não consanguíneos). Entre estes se registaram 1 Setter Vermelho de nome “Sampson”; “Tracer”, um Retriever negro de manto ondulado, irmão de ninhada do então campeão do Retriever, chamado “Moonstone”; outro cão negro, de nome “Zelstone” e outro Tweed Water Spaniel, de nome “Tweed”.
Para manter a linhagem forte e melhorar as aptidões de caça, Especula-se sobre uma possível utilização de um Bloodhound, mas não há como comprovar essa hipótese. A textura da pelagem dos cães era variada, assim como a cor, que ia do ruivo ao creme.
Ocasionalmente, filhotes do canil do Lorde Tweedmouth eram dados a amigos e parentes. Algumas dessas pessoas criaram os cães e desenvolveram linhagens próprias. Os anos de seleção de tipo, cor e habilidade realizada em Guisachan resultaram na linhagem Ilchester, ancestral dos Goldens atuais.
A difusão da raça, a partir do núcleo inicial de Guisachan, não é difícil de compreender se se pensar na vida social da época, em que as batidas de caça, muitas vezes organizadas nas distintas propriedades dos nobres, eram frequentemente uma ocasião para estabelecer contactos diplomáticos, de trabalho e de intercâmbio. É provável que estes cães de caça, utilizados durante estes encontros tenham sido cedidos, vendidos ou oferecidos a outros nobres, visto este desporto ser praticado por toda a aristocracia, tendo assim, a raça difundido por toda a Inglaterra.
A segunda filha de Lord Tweedmouth, de seu nome Ishbel, que casou com o Conde de Aberdeen que entretanto se tornou Governador Geral do Canadá. Dois dos seus outros filho, Coutts e Archie foram também para a América. Através deles deu-se início à raça Golden Retriever no continente Americano.
Na foto Croccus ( Nous x Belle) nascido em 1868.
O Golden Retriever através dos anos...
1890: Os primeiros golden levados por viajantes começam a chegar nos EUA e Canadá.
1894: O Filho de Lord Tweedmouth e Lady , sua golden retriever, emigaram ao Texas, passando pelo Canadá.
Lady e o filho de Lord Tweedmouth
1903: A raça é aceita elo Kenne Club of England, chamada de flat coated golden.
1904: Um golden obtem primeiro lugar em uma prova de campo.
1908: Cullhan Brass e Cullhan Cooper , descendentes diretos do plantel de Lord Tweed , são critos em uma exposição de beleza. Deles descend todo o plantel .
1911: Fundado o Golden Retriever Club of En a raça é reconhecida
1925: Registro do primeiro golden retriever americano.
1927: Primeiro registro como raça separada no Canadá.
1930-1940: Os Goldens se popularizam nos EUA e se espalha pelo mundo.
1932: Primeiro golden campeão americano
Foto: Speedwell pluto
Proprietário:Samuel Magoffin
1938: Fundação do Golden Retriever Club of America.
1977: Os primeiros três cães a alcançar o título de Campeão de Obediência do AKC são Goldens. O primeiro (Ch. Moreland´s Golden Tonka) é fêmea. Hoje a raça está muito difundida na Austrália, Bélgica, Holanda, Suécia, Noruega, Canadá, Japão e, sobretudo, nos EUA.
1977: Os primeiros três cães a alcançar o título de Campeão de Obediência do AKC são Goldens. O primeiro (Ch. Moreland´s Golden Tonka) é fêmea. Hoje a raça está muito difundida na Austrália, Bélgica, Holanda, Suécia, Noruega, Canadá, Japão e, sobretudo, nos EUA
Foto: Moreland's Golden Tonka